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De segunda mão

A plataforma Trocaria incentiva pessoas a trocarem roupas online

     A maioria das pessoas nunca parou para pensar nos prejuízos que o descarte irresponsável de roupas pode gerar ao meio ambiente. Por serem fabricadas a partir de materiais como petróleo, as roupas que jogamos no lixo podem prejudicar o solo, se forem para aterros, e o ar, caso sejam incineradas, além de levarem centenas de anos para se decompor. O hábito de jogar as roupas fora aumentam as pilhas de lixo dos aterros sanitários e alimentam o ciclo desenfreado de produção têxtil: se jogamos nossas peças fora para comprarmos novas, as indústrias continuam produzindo em grande escala. A indústria da moda ocupa o segundo lugar no ranking de indústrias mais poluentes, perdendo só para a terrível produção de petróleo, e estudos mostram que a quantidade de roupas produzidas atualmente poderia manter a população mundial por três anos. Ou seja, o processo de descarte de roupas prejudica o meio ambiente duplamente. 
     Uma das saídas para contornar esse problema é retomamos a cultura de reutilização de roupas. Hábito já modernizado, colocar aquela peça velha para uso pode ser feita pela reestilização, reciclagem, upcycling*, além dos já conhecidos brechós. Mas o tipo de comércio de roupas usadas não morreu, mas seguiu as tendências da modernidade. Brechós onlines, sites de trocas e grupos de venda no Facebook são alguns exemplos de atualização da alternativa que antes relacionamos as vendas nas festas de igreja. 
     Um exemplo, é a iniciativa idealizada por Evelise Biviatello, 30 anos, que transformou a sua vontade de colaborar para uma moda mais sustentável em projeto de mestrado. Formada em Publicidade e Propaganda na PUC, em 2008, Evelise entrou no mestrado da Lund University após a especialização na UNICAMP. O plano de negócios criado durante o curso surgiu a partir de uma ideia simples: facilitar a troca e venda de roupas entre as pessoas, incentivando a reutilização de peças que estão paradas no armário ou que não servem mais. Ela aproveitou o mestrado para desenvolver detalhadamente o planejamento da plataforma que sonhava em criar com sua amiga Maitê Hotoshi, designer e antiga companheira de trabalho em uma startup.
     As duas trabalharam durante três meses na

Kasari e descobriram ter muitos interesses em

comum. O maior deles era a necessidade de fazer

escolhas mais conscientes e que fossem

sustentáveis do ponto de vista ecológico e

financeiro. Evelise havia trabalhado durante um

ano em um e-commerce em Shanghai, em 2012,

por meio da organização AIESEC. Ela se mudou

para a Suécia em 2014 e, no ano seguinte,

começou a trabalhar no projeto do Trocaria,

plataforma online que incentiva o consumo

colaborativo. “Nós não temos um estoque e não

fazemos a curadoria das peças. Somos apenas

um meio e fazemos o contato entre o vendedor e o

comprador. Tudo começou com o blog sobre moda

sustentável, onde abordávamos algumas

alternativas para consumir de forma mais

sustentável. Com a ajuda do Everton Biviatello,

criamos o site e toda a plataforma de troca. Nossa

ideia é incentivar as pessoas a comprarem roupas

second hand”, explica a co-fundadora do Trocaria.
     Toda a trajetória de Evelise esteve ligada à

busca por alternativas sustentáveis. A mudança

para a Suécia fez com que ela acreditasse ainda mais na sua ideia. Hoje, se organiza com os amigos para manter o site como um hobbie. “Meu sonho é que eu consiga fazer apenas isso e que o Trocaria consiga pagar todas as minhas contas”, reforça a criadora do projeto. Para ela, o mercado da moda sustentável está crescendo no Brasil e há cada vez mais pessoas se preocupando com o impacto que as compras de roupas causam no meio ambiente e na sociedade. “O consumo desenfreado não é ruim somente por causa do gasto de dinheiro com peças que ficam para sempre guardadas no fundo da gaveta. Esse hábito também tem um impacto na natureza, porque muitos recursos foram gastos para a produção de uma roupa. Além disso, para vender peças mais baratas, as grandes lojas utilizam mão de obra de países mais baratos”, explica Evelise sobre os principais problemas das lojas fast-fashion, como C&A e Renner.
     Biviatello fez parte de um grupo dentro da organização Oikos Internacional, que reúne alunos de diversos países para pensar em economia sustentável. O grupo dela, especificamente, era focado em moda. Hoje, ela cuida do marketing e das finanças do site Trocaria, enquanto a Maitê Hotoshi cuida do projeto no Brasil e o Everton Biviatello faz seu trabalho do Canadá. A criação aconteceu em 2015, mas a plataforma para a venda de roupas só funciona há 8 meses.
     “A visão dos suecos sobre a moda é bem diferente. Eles costumam ser mais minimalistas e gostam bastante de comprar roupas de second hand. Ir ao brechó é como uma caça ao tesouro: eles valorizam as peças únicas e carregam um valor sentimental por elas”, afirma Evelise, que adora comprar suas roupas em brechós e usa as peças até não servir mais. Sua maior inspiração é a marca Filippa K, muito conhecida na Suécia, que tem roupas minimalistas e está preocupada com a sustentabilidade das peças. Para ela, a H&M é uma das marcas de fast-fashion que lideram o mercado nessas questões de preocupação com uma produção que degrade menos o ambiente. O brechó colaborativo online é uma alternativa sustentável no fim da cadeia produtiva, dando um novo rumo para o que já foi produzido e utilizado não ficar largado por centenas de anos num aterro, criando mais poluentes.

*Veja o significado de upcycling no nosso dicionário

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